4 de junho de 2006

O jeans

Era uma ideia absurda. Ela me olhava, esperando minha resposta.
Eu não vou, disse. Vi a Renata ficar vermelha, pelo espelho do banheiro.
Por que não? Vai ser legal. Vai ter um monte de gente importante. Gente rica, entende? É importante que eu vá.
Vá sozinha.
Ela me olhou um tempo, com raiva. Arrependi-me e toquei seu rosto.
Olha, Rê. Não dá pra eu ir, sabe? Eu não conheço ninguém. E foi tão de repente, nem tenho roupas adequadas (mentira).
Ela me olhou feio, disse então tá, tchau, e foi embora. Fiquei parado, no meio do quarto, com a calça que ela mandou eu vestir na mão, meio sem reação. Babaca, você é um babaca! Vai que um tarado pega ela no meio da rua. Vai que um daqueles ricaços resolve pedi-la em casamento e ela aceita! Droga! Corri para a janela. Ela me esperava, lá embaixo, olhando para a janela do meu quarto, como se adivinhasse que eu apareceria. Sorriu.
Demorou, hein?
Eu ri. Me espere, vou pôr meu jeans.
Não!, berrou ela, lá de baixo. É aquele smoking que eu te dei de aniversário.
Foi de Natal.
Não interessa, anda logo!
Botei meu jeans e fui.
Demorei um século para achar uma vaga no estacionamento. Um monte de gente, um monte de carros, barulho, um inferno!
Inferno o que, amor? Olha quanta gente famosa. É um luxo!
Tão famosas que eu não conheço nenhuma.
Vamos entrar, disse ela, e puxou-me pelo braço.
Na porta um rapaz alto, vestido de branco, estendeu a mão para mim. Dei um tapinha e disse, e aí, rapaz! Tudo bem? Vi que a Renata ficou vermelha de novo. Me cutucou e entregou dois convites na mão do rapaz.
Olha o vexame, Jota!
Entramos no salão. Que salão! Enorme, cheio de lustres, cheio de gente, cheio de mesas, cheio de garçons babacas servindo os ricos idiotas, cheio de tudo! Vi uma rodinha de homens bem vestidos que conversavam e riam cordialmente, fumando charutos importados e bebendo uísque. Mulheres feias, gordas, velhas e com vestidos ridículos, parecendo urubus, circulavam e riam pelo salão. Olhei em volta e não vi a Renata. Comecei a caminhar devagar, me sentindo um otário. Um dos urubus olhou para o meu jeans e caiu na gargalhada. Não sabia onde enfiar a cabeça.
Ei, Jorge Luís! Era a Renata. Ela nunca me chamava pelo meu nome. Virei-me e vi que ela estava acompanhada por um senhor elegante, que me olhou com certo desprezo. Apresentações, muito prazer, sim, estou adorando a festa (mentira cabeluda). Ele se afastou. Fiquei a sós com a Renata. Ela me olhou como quem diz, aproveite, que ainda vamos demorar por aqui. Sorri, um sorriso amarelo, e peguei um copo com qualquer coisa que passava numa bandeja. Renata pegou um uísque e se afastou novamente.
Entrei num banheiro e me tranquei. Lavei as mãos, fiz xixi, dei descarga, lavei as mãos de novo e saí. Até o banheiro tinha aquele maldito cheiro de charuto. Andei um tempo, comi alguma coisa e, num relance, vi a Renata conversando com um sujeito baixo e careca. Discutiam. Ela o xingou (vi pelo movimento dos seus lábios) e se afastou, pisando forte, quase correndo, vindo em minha direção.
Vamos embora, Jorge Luís!
Mas por quê? O que aconteceu?
Vamos embora, Jota! Agora!!!
Fomos embora, eu dando graças a Deus.
Luis

2 comentários:

Luis disse...

Este é bem velhinho, mas até que é bom, né?

Anônimo disse...

Por que ela discutiu com o careca?!O que ela falou?!Quem era ele?!
E quando você vai devolver meus contos,comentados?!
heim heim??!
hihihi.